segunda-feira, 29 de outubro de 2012


Fosse vivo, meu pai, ontem, dia 28 de 10, teria completado 90 anos de idade... Infelizmente, ele partiu algo cedo, hoje eu acho, aos 72 anos, lá nos idos de 1994... Partiu depois de uma longa batalha, complicada, com uma enfermidade resultada (ou ampliada) pela coisa do maldito cigarro (objeto este que eu já fiz uso também, já parei, já voltei ["estupiadamente"] e já abandonei, acho que agora de vez, na última virada de ano)...! Meu pai tinha enfisema, e, claro, complicações assomadas de diabetes, problema no coração, asma, o que, tudo junto, trazia um quadro que foi piorando e desgastando ao longo do tempo, aquele homem vibrante, risonho, alegre e divertido que era meu pai... Meu pai era enfermeiro por formação, homem simples, vindo do interior das grotas de Pelotas, lá pelas bandas do Rio Grande, onde hoje existe uma cidade chamada Capão do Leão - que um dia ainda quero visitar...! Saiu de lá, onde teve uma infância pobre, comum àqueles dias das décadas de 20 e 30 do século passado. Casou cedo com minha mãe e logo teve que correr mais atrás ainda da vida... Eram tempos diferentes, então... Meu pai entrou no exército, temeu ser convocado para a 2ª Guerra Mundial, se formou enfermeiro enquanto no serviço militar. Após isso, seguiu e se aprimorou, se tornando Kinesiólogo. Eis que então entrou para o futebol, trabalhando como massagista em times como o Renner e Brasil de Pelotas, mais tarde passando então para o maior time do RS, o Grêmio Foot-Ball Portoalegrense (ainda se escrevia assim, então)...!! Obviamente, meu pai, minha mãe e meus irmãos, ainda pequenos, se mudaram todos para a capital e a vida começou a ser melhor. O pai teve anos muito bons no futebol, podendo inclusive viajar ao exterior, à Europa, em uma campanha internacional do Grêmio, no início dos anos 60. Meu pai contava histórias engraçadas das estadas em lugares como Dinamarca, Romênia, Tchecoeslováquia, Holanda e Rússia, entre outras...! Sempre com muitas confusões, risadas de sua equipe, e algumas poucas fotos em preto e branco, como de praxe da época...! Meu pai era engraçado e acho que agia assim com todos. Meu irmão é muito irônico e acho que herdou um pouco da veia "humorística" do pai, mas talvez eu mesmo seja ainda mais parecido com ele, neste sentido... Anos adiante, depois de sair do futebol e se instalar por conta própria, meu pai também foi dirigente de clube social aqui na cidade, e por anos a fio vivia em eventos, festas, do próprio clube ou convidado dos outros...! Anos agitados, da minha pré-adolescência...! Talvez (e cada vez mais vejo isso) eu tenha herdado também, além do bom humor, da sensibilidade meio à flor da pele de meu pai (sendo que esta ele escondia sob uma capa de "durão" - típico da educação machista da época), essa coisa agregante e socializadora dele... Meu pai, claro, com os devidos porquês, era um cara "famoso" no seu meio, na sua época e por isso bem visto, bem quisto - excetuando-se, claro, aqueles que, justo por isso, talvez não gostassem dele... Eu, de alguma forma, tenho minhas similaridades com isso, como ele, que hoje, no alto dos meus 45 anos, acho cada vez mais interessante... Sou assim naturalmente. Pra mim, eu sou como sou e este é meu eu... mas se paro para analisar, sou muito "meu pai" em muitas coisas... Fora ainda traços de personalidade tipo, jeito de rir, detalhes físicos, etc... Posso não ser muito parecido fisicamente (se bem que ainda em fotos, as vezes quase que o vejo em mim...) mas acho que nenhum dos filhos é "muito parecido... Meu irmão do meio é bem mesclado, de mais parecido, herdou a cor morena de meu pai, aquela pele tostadona do sol, que todo mundo adora... Eu já herdei a branquidão de minha mãe, assim como minha irmã mais velha... Enfim, tudo isso pra lembrar dos 90 anos que o pai faria ontem, se estivesse conosco... Seria tão bom se ele pudesse ter estado... As vezes me faz uma falta enormissíssima o conselho dele, a ajuda dele, que sempre tive, enquanto ele era vivo... Mas principalmente seu cuidado. Meu pai era muito zeloso com os filhos, todos nós... Não sei se tinha lá suas preferências, mas não deixava na vista, pois cada um de nós tinha uma parcela muito específica dele...! Lembro que eu tinha muito ciúmes da minha irmã, quando eu era pequeno, porque meu pai sempre ia visitá-la depois do trabalho, as vezes... E as vezes eu ia junto. Noutras não. Era pequeno, 5, 6, talvez 7 anos de idade... Não entendia. Minha irmã, a primogênita, era os dengos do pai - com toda razão, claro...! Meu irmão, o parceiro dele... Vivia junto, na época de pequeno, nas incursões esportivas do pai no futebol. Depois, já adulto, teve a talvez sorte de trabalhar com o pai no Instituto de fisioterapia e massagens que o pai levou até quase o fim da vida... Meu irmão aproveitou bastante do pai, de sua companhia, de sua sabedoria... Assim como minha irmã, talvez, de outra forma, com o amor, o cuidado, o carinho... A mim, o caçula, restou os anos do início da 3ª idade de meu pai... Já não com tanto folego, já mais estabilizado, já menos participativo, talvez... Mesmo assim, passamos poucas e boas, do afeto ao quase-ódio (devido àquelas coisas "normais" da adolescência)!! Cresci já numa época muito diferente da realidade e dos costumes do pai - hoje percebo como funcionam essas diferenças, com minha filha adolescente... E ainda que tenha tido toda a sua asa para me cuidar e poupar de muita coisa, muito disso também, inadvertidamente, acho que me trouxe alguns problemas que ainda hoje sinto... Mas isso são outros detalhes.. Eu só realmente soube o que é ser pai e a falta que ele me fez, depois de eu mesmo me tornar pai, um ano após sua morte... Infelizmente, ele não chegou a ver meus filhos, no caso minha única filha, Letícia... Ele teria gostado dela, mimado ela talvez mais que todas as outras netas que tanto amava... Meu pai era um bobão... e eu sou um bobão maior ainda...!! E me orgulho TANTO disso que ninguém tem sequer idéia...!! Hoje, um dia já depois da data que comemoraria seu aniversário, trago aqui um pouco das minhas lágrimas, não de tristeza, mas de saudade, de lá se vão 17 anos de saudade, esperando que, onde quer que ele esteja, ele esteja bem, que guarde por nós, e que nos espere, a todos, pois todos voltaremos a nos encontrar, de algum jeito, um dia, na poeira das estrelas de que viemos... Pai... Te amo velho... Acho que nunca tive coragem de te dizer isso assim, pq como tu, sempre represo "um muito" dos meus sentimentos, na timidez da minha personalidade... Um beijo, um abraço espiritual, e muita, muita falta de tudo que tu era aqui conosco...! Até algum dia...
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Buzz
(MSC)