O tempo não existe...
O tempo não existe... Ele só existe quando pára... Aí ele existe por deixar de existir...
Explico: O tempo é uma linha contínua de sentimento e percepção imperceptível de tudo que nos cerca... Vida, alegria, tristeza, risos, trabalho, lutas, tudo... As compras do supermercado, o táxi que se pega para ir a algum lugar, a expectativa de falar com alguém que se quer, o filme que vai dar na TV, o remédio que se precisa para curar uma alergia, a falta de luz momentânea, a comida que cai do garfo ao ir em direção à boca, o sinal que fecha, o carro que passa buzinando, o susto do cachorro que late ao passarmos por algum portão... Tudo isso não se percebe... Porque é imperceptível. Está ali. Assim como nós. Não se vê, como não se vê o tempo, como nós não nos vemos.
Só nos vemos em duas oportunidades e as duas da mesma forma: como imagem. Ou no espelho, uma distorção reversa, invertida. Ou na imagem de uma captação eletrônica, seja TV, foto, o que for. E nos vemos em situações que não existem: refletidos ao inverso ou presos num universo inexistente, eletrônico, em imagens estáticas ou em movimento, captadas magnetica ou eletronicamente. Bit & bytes... Ainda assim, são momentos no tempo que não existem.
O tempo só existe quando pára. Quando deixa de ser. Quando, essencialmente, morre. A morte do tempo é quando ele não é mais, e aí sim, começa. Quando não pode, ele se faz sentir. Quando não existe, nos lembramos dele. O tempo, na verdade, é uma lembrança. Um registro de que esquecemos de algo. E lembramos. E quando lembramos, o tempo pára. Porque então ele passa a existir. E tudo que existe faz diferença... Porquê, já disse um famoso pensador "Tudo faz diferença, depois de existir" (Ohlavrac, se não me engano)...!
Então, o tempo existe por deixar de existir. Pelo que se perde. Pelo que não se tem. Pelo que se deixou de fazer. Pela ausência de continuidade. Ou pela continuidade do vazio. Pela existência do parar. Pela não-existência do existir... E é essa a diferença fundamental entre a lágrima que cai e o sorriso que acalenta. Entre a lágrima da saudade (eterna) e o sorriso do reencontro (momentãneo). Entre a tristeza da morte... e a certeza de que numa vereda ou outra, nos encontraremos de novo, numa esquina da vida, ocasional ou propositadamente.
Até lá, não veremos o tempo. Ele não terá valor, nem significado, nem relevância... Somente na ausência ele se faz presente. Somente quando não existe mais tempo, que o tempo existe... Somente quando existe, ele pára... E o tempo nunca pára, para podermos secar as lágrimas e continuarmos vivos... Continuarmos respirando, andando, escrevendo...
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Buzz
(MSC)
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