segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Eu descobri... que morrerei sozinho...


Eu sou um ser único. Não tenho um gêmeo. Nasci sozinho. Morrerei sozinho. Mas não sou sozinho. Sou um ser "coletivo", como me disseram. Não sei viver só. Ainda que seja só, em mim mesmo, dentro de mim... Sou apenas um ser vivo, com uma consciência única e muito particular...

Gosto de pessoas. Gosto de gente. Gosto de estar com as pessoas. De ouví-las. De poder ajudá-las, eventualmente... E, claro, gosto de pensar que posso contar com elas (ao menos com algumas, as mais próximas, as que eu considero como AMIGAS de verdade).

Mas ainda assim nasci sozinho. Morrerei sozinho. E a minha dor, seja ela qual for, é muito particular. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato. Ninguém veste suas calças. Só você mesmo. O máximo que pode acontecer é vc TENTAR entender a dor de outro. Ou compreender. No mínimo aceitar.

Eu gosto de gente. Sou um ser simples. De emoções fortes. De sentimentos amplos. Não procuro fazer a ninguém o que não gosto que façam comigo. Confio nas pessoas. Até que elas se percam. Aí tento ainda dar chances delas se encontrarem... Mas normalmente é como uma programação que se perde e não se consegue "reprogramar"... Então as deixo ir. E elas se vão. As vezes para sempre, noutras não...

As vezes elas deixam marcas em minha vida. Noutras talvez eu deixe. Sempre somos tocados, de alguma forma... Marcas internas, na mente, no coração. Mas seguimos em frente com a única coisa que temos: a nós mesmos. Seres únicos, presos dentro de um corpo, de um invólucro físico, com uma forma muito peculiar de pensar, cada um de nós...

Por isso nascemos únicos. Sem cópias. Mesmo os gêmeos, Iguais, porém diferentes. Individuais... Cada um nasce só. Cada um chora o SEU choro ao nascer. Cada um chora a SUA emoção... Cada um toca e é tocado de alguma maneira, diferente, particular e individual...

E cada um morrerá só, sozinho, à sua hora. E em seu derradeiro momento, NINGUÉM poderá sentir a vida se esvaindo de seu corpo, ou talvez descobrir SE HÁ algo após esta vida, na morte...

Eu descobri que morrerei só. No frio e derradeiro final, seja ele aos meus 99 anos de idade, na aurora de um novo ano, na falência geral do meu sistema físico pessoal, ou em qualquer outro momento; num escorregão na calçada, num estúpido paralelepípedo do meio fio, naquele carro que não consegue vencer uma ultrapassagem forçada, ou mesmo na casualidade daquela indefectível maionese que não causava nenhuma suspeita de estar infectada...

Eu sou um ser único. Nasci sozinho. Morrerei sozinho. E entendo esta solidão como uma missão, um presente, para evoluírmos e nos tornarmos seres melhores, junto com outros... Difícil tarefa... Tarefa que só internamente talvez consigamos vislumbrar... mas talvez só coletivamente consigamos efetivar...

Só nos resta tentar... Porque apesar de sermos seres únicos, completos, fechados, também somos abertos pela emoção, pela compaixão, pela necessidade de conhecer, de saber, de entender, de transcender...
E ainda assim somos sós. Nascemos sós... Morremos sós...

E um dia, nos tornamos esquecidos, poeira levada ao vento, um grão de areia na poeira do infinito...


"Não somos seres humanos numa jornada espiritual, mas seres espirituais numa jornada humana." Nikos Kazantzakis (1883-1957)

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